Comunidades tradicionais denunciam grilagem de terras no Oeste da Bahia até por goianos

Comunidades tradicionais denunciam grilagem de terras no Oeste da Bahia até por goianos

População das comunidades de Fundo de Fecho e Pasto fazem excursão até área grilada | Foto divulgação/print/YouTube


Anunciação de conflitos acontece no Matopiba – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – a última fronteira agrícola do Brasil; assista ao vídeo


No Oeste da Bahia, comunidades tradicionais denunciam que enfrentam a invasão de suas terras, ameaças e a presença de pistoleiros. Uma viagem se forma, liderada por carros com homens, roupas típicas da região. Essa caravana, no entanto, não busca diversão; ela está envolvida com a pistolagem. Os carros param perto da BR 349, a alguns quilômetros da divisa da Bahia com Goiás, e os motoristas são instruídos a estar prontos para uma fuga rápida. De acordo com relatos à posseiros até de Catalão, município no Sudeste goiano.


Abaixo de um arame farpado, aproximadamente trinta homens e duas mulheres avançaram, observando dois pistoleiros a cerca de 50 metros de distância. O clima é tenso, pois ninguém sabe o que acontecerá a seguir. Os pistoleiros vestem uniformes de uma empresa de segurança privada chamada Estrela Guia e trabalham em casos de grilagem de terras. O líder desse grupo, Carlos Erlani Gonçalves Santos, conhecido como “Cabo Erlani”, é uma figura infame nas polêmicas relacionadas à apropriação de terras tradicionais por fazendeiros.


Cabo Erlani é um policial militar da reserva que também atua como pastor e construtor. Ele ganhou notoriedade ao prestar “segurança” em situações de grilagem de terras. No entanto, a identidade dos fazendeiros que o contratam permanece obscura.


A grilagem de terras afeta tanto pequenos fazendeiros quanto grandes empresas do agronegócio, como SLC Agrícola, Grupo Horita e Bunge, que detêm ou alugam terras em áreas ocupadas por comunidades tradicionais. Isso faz parte de um movimento de expansão do agronegócio e do mercado financeiro na região conhecida como Matopiba, que engloba Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, a última fronteira agrícola do Brasil.


Os moradores de comunidades tradicionais, como Fundo de Fecho e Pasto, há gerações usam essas terras para agricultura familiar e pastoreio de gado. No entanto, enfrentam a perda das suas terras devido à grilagem e à invasão de fazendeiros e empresas.


Apesar das disposições da Constituição da Bahia que autorizam essas comunidades e seus direitos à terra coletiva, o governo estadual tem sido relutante em reconhecer esse direito. Em setembro de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) barrou uma tentativa de criar um marco temporal para essas comunidades, semelhante ao que ocorreu com povos indígenas. Foi alega inconstitucionalidade.


Modus operandi


A grilagem de terras segue um modus operandi que envolve circulação de desconhecidos, ações de pistoleiros e seguranças, expulsões de posseiros e cercamento de áreas invadidas. Isso resulta em uma luta constante entre moradores tradicionais por seus direitos e terras.


O caso de Sargento Erlani ilustra a violência e a impunidade que cercam essas questões. Apesar de inúmeras ocorrências de ameaças, sequestros, violência física e tentativas de homicídio envolvendo empresas de segurança como a dele, as autoridades têm sido lentas em tomar medidas eficazes.


Assim, a grilagem de terras nesta região evidencia a desigualdade crescente na região e a luta dos geraizeiros pela preservação de suas terras e modos de vida tradicionais. Essa batalha reflete desafios mais amplos relacionados ao avanço do agronegócio, à destruição do Cerrado e à falta de apoio das autoridades. Enquanto grandes fazendeiros e empresas continuam a expandir suas operações, as comunidades tradicionais sofrem as consequências.


Fonte: Da bala ao gabinete: como se grila um pedaço de terra


Leia também:
[Vídeo] Prefeitura de Goiânia abre rua em Parque e pode sufocar o córrego Cascavel, diz morador