Anunciação de conflitos acontece no Matopiba – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – a última fronteira agrícola do Brasil; assista ao vídeo
No Oeste da Bahia, comunidades tradicionais denunciam que enfrentam a invasão de suas terras, ameaças e a presença de pistoleiros. Uma viagem se forma, liderada por carros com homens, roupas típicas da região. Essa caravana, no entanto, não busca diversão; ela está envolvida com a pistolagem. Os carros param perto da BR 349, a alguns quilômetros da divisa da Bahia com Goiás, e os motoristas são instruídos a estar prontos para uma fuga rápida. De acordo com relatos à posseiros até de Catalão, município no Sudeste goiano.
Abaixo de um arame farpado, aproximadamente trinta homens e duas mulheres avançaram, observando dois pistoleiros a cerca de 50 metros de distância. O clima é tenso, pois ninguém sabe o que acontecerá a seguir. Os pistoleiros vestem uniformes de uma empresa de segurança privada chamada Estrela Guia e trabalham em casos de grilagem de terras. O líder desse grupo, Carlos Erlani Gonçalves Santos, conhecido como “Cabo Erlani”, é uma figura infame nas polêmicas relacionadas à apropriação de terras tradicionais por fazendeiros.
Cabo Erlani é um policial militar da reserva que também atua como pastor e construtor. Ele ganhou notoriedade ao prestar “segurança” em situações de grilagem de terras. No entanto, a identidade dos fazendeiros que o contratam permanece obscura.
A grilagem de terras afeta tanto pequenos fazendeiros quanto grandes empresas do agronegócio, como SLC Agrícola, Grupo Horita e Bunge, que detêm ou alugam terras em áreas ocupadas por comunidades tradicionais. Isso faz parte de um movimento de expansão do agronegócio e do mercado financeiro na região conhecida como Matopiba, que engloba Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, a última fronteira agrícola do Brasil.
Os moradores de comunidades tradicionais, como Fundo de Fecho e Pasto, há gerações usam essas terras para agricultura familiar e pastoreio de gado. No entanto, enfrentam a perda das suas terras devido à grilagem e à invasão de fazendeiros e empresas.
Apesar das disposições da Constituição da Bahia que autorizam essas comunidades e seus direitos à terra coletiva, o governo estadual tem sido relutante em reconhecer esse direito. Em setembro de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) barrou uma tentativa de criar um marco temporal para essas comunidades, semelhante ao que ocorreu com povos indígenas. Foi alega inconstitucionalidade.
Modus operandi
A grilagem de terras segue um modus operandi que envolve circulação de desconhecidos, ações de pistoleiros e seguranças, expulsões de posseiros e cercamento de áreas invadidas. Isso resulta em uma luta constante entre moradores tradicionais por seus direitos e terras.
O caso de Sargento Erlani ilustra a violência e a impunidade que cercam essas questões. Apesar de inúmeras ocorrências de ameaças, sequestros, violência física e tentativas de homicídio envolvendo empresas de segurança como a dele, as autoridades têm sido lentas em tomar medidas eficazes.
Assim, a grilagem de terras nesta região evidencia a desigualdade crescente na região e a luta dos geraizeiros pela preservação de suas terras e modos de vida tradicionais. Essa batalha reflete desafios mais amplos relacionados ao avanço do agronegócio, à destruição do Cerrado e à falta de apoio das autoridades. Enquanto grandes fazendeiros e empresas continuam a expandir suas operações, as comunidades tradicionais sofrem as consequências.
Fonte: Da bala ao gabinete: como se grila um pedaço de terra
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