Meu torrão de açúcar, de Edival Lourenço; Goiânia, de Elizabeth Caldeira Brito; e Goiânia morena, de Lêda Selma
Meu torrão de açúcar
Por Edival Lourenço
Quando a língua atinge o ápice
do recôncavo de minha boca
para articular o circunflexo
da palavra Goiânia
no seu étimo nasalado
do planalto em que moro
é como se desmoronasse
um torrão de açúcar sonoro
pelo céu do palato e espalhasse
pelos vales recônditos da boca
de papilas e alvéolos
com doces resvalos no espírito
de quem dorme sonhando alto
e acorda a levitar, inebriado
com o povoado-metrópole
dando suporte aos desejos,
perfumes e flores aos delírios.
Goiânia, em seu nome
é que moro e ao mesmo
tempo me dissemino.
Em seu nome, Goiânia,
é que me reorganizo!
Goiânia
Por Elizabeth Caldeira Brito
Pedro por mim se apaixonou
sonhou o sonho sonhado.
Planejou-me capital moderna,
pulsando o coração no cerrado.
Não tinha esta vida agitada…
Era tranquila, ruas vazias…
Bangalôs, casas, quintais,
pessoas a cultivar amigos.
Hoje vertiginosa metrópole,
capital da beleza e flores
artérias entupidas de carros
apressados, resguardando amores.
Aos oitenta, balzaquiana
cuidando presente e futuro.
Nem me dei por tamanha mudança!
— Onde perdi minha infância?
— Em que espaço ficou meu ar puro?
(Do livro “Dimensões do Viver”. Goiânia, Kelps)
Goiânia morena
Por Lêda Selma
Goiânia morena
de corpo esguio
e ancas largas,
de manhãs soltas ao vento,
de tardes acaloradas,
de ventre escancarando
a prenhez de sol e de flores.
Nas tardes, sempre faceira,
com os desejos flamantes,
Goiânia goiana, amante,
dos poetas, das poetisas,
das noites tão luzidias,
a queimar emoções fortuitas
em seu braseiro de estrelas.
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