Harvard é pressionada a rever investimentos em terras de grilagem no Cerrado

Harvard é pressionada a rever investimentos em terras de grilagem no Cerrado

Fazendas com fundos de Havard e TIAA no Cerrado em chamas Foto Mighty Earthgrain.org


Professores da instituição são questionados por vínculos com o fundo TIAA e seus investimentos no Brasil


Dois professores da Universidade de Harvard, um da Faculdade de Direito e outro da Faculdade de Medicina, enfrentam pressão para reavaliar seus vínculos com o fundo trilionário de investimentos TIAA, o principal administrador dos recursos de aposentadoria de professores nos Estados Unidos. A preocupação reside na associação desse grupo financeiro com uma série de casos de desmatamento, grilagem de terras e violência contra comunidades tradicionais do Cerrado. O caso foi denunciado por veículos de comunicação, dentre eles a Agência Pública, ao longo dos últimos anos.


A presença de professores de Harvard na gestão dos ativos do fundo TIAA é um dos principais tópicos de discussão no evento intitulado “Grilagem e ecocídio: como BUNGE, TIAA e Harvard estimulam a destruição do Cerrado brasileiro”. O evento ocorreu nas dependências da própria universidade norte-americana e apresentou um novo estudo em inglês sobre essa questão.


De acordo com a organização do evento, a Universidade de Harvard, seus funcionários e investidores possuem investimentos no valor de pelo menos US$ 3,9 bilhões no fundo TIAA, o que equivale a cerca de R$ 19,7 bilhões na taxa de câmbio atual. Em última instância, esses recursos acabam sendo usados ​​na aquisição de terras na principal região de expansão agrícola brasileira, o Matopiba, que engloba partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.


De acordo com dados do governo federal, nos últimos quatro anos, a taxa de desmatamento no Cerrado aumentou significativamente, de 6,3 mil km² para 10,7 mil km², um aumento de quase 70%. Esse aumento está relacionado principalmente à devastação em áreas onde há investimentos estrangeiros na compra de terras e isso inclui regiões com ligações históricas com o fundo TIAA e Harvard.


Denúncias


Um dos casos mais notórios é o da antiga Caracol Agropecuária, responsável pela grilagem de 140 mil hectares no oeste da Bahia, que recebeu investimentos do fundo TIAA e da Universidade de Harvard, conforme relatado pela Pública. Entretanto, Harvard conseguiu evitar avaliações judiciais relacionadas ao caso na Bahia. Estima-se que a universidade norte-americana tenha mais de US$ 1 bilhão investido em terras em todo o mundo, principalmente no Brasil.


Um dos organizadores do evento, Fábio Pitta, professor visitante do Departamento de História de Harvard, afirma que a grilagem de terras relacionadas ao grupo TIAA e, consequentemente, à própria universidade americana, tem avançado em outras partes do Matopiba. Ele observa um aumento das atividades de milícias rurais contra os camponeses da região, que buscam regularizar terras roubadas, desmatando, revendendo e consolidando grilagens que ocorreram no passado.


Fonte: Harvard é pressionada dentro de casa a rever investimentos em terras griladas no Cerrado

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