Vive em nós a casa caipira, o fogão a lenha,
O homem trabalhador e a boa cozinheira.
Mora em nós a viola e o violeiro, as congadas
As folias e os sapateados dos catireiros.
Por Álvaro Catelan
(Com a poesia, a alma e a devida vênia de Cora Coralina)
Somos assim…
Gente dos cerrados e dos matos
Gente dos tempos, das antigas terras .
Somos povo da roça, do interior,
Homens caipiras de fé e devoção.
Somos do jeito de nossa morada,
Que fica depois de uma porteira
Que bate triste em nossa saudade.
Na vertente poética somos todos
Habitantes das brenhas, dos vazios
Dos imensos sertões e cerrados solitários,
Habitantes dos planaltos empoeirados,
Das verdejantes e ricas veredas,
E dos ricos rios mansos e caudalosos.
Vivemos com as emas, as coloridas araras
Com o canto do inhambu e o canguçu feroz,
Com os pequizeiros, mangabas, ipês, e caraíbas,
Que florescem num agosto sem fim…
Vivendo nas grandes cidades
Ou nos pequenos povoados e retiros.
Somos filhos e irmãos do mundo caipira.
Somos assim um museu de tudo.
Hospedamos em nossa memória
Os sertões de homens e gados,
Dos boiadeiros e das boiadas.
Guardamos em nós um velho carro de bois,
Com o seu triste canto encantoando
Nossa infância marcada
Pela leve poeira das estradas.
O trabalho nos transfigura.
Dentro da gleba,
ouvindo o mugido do gado ou o cantar dos galos,
nós nos identificamos.
Somos árvore, somos tronco, folha e raiz
e somos a velha tulha de barro.
Por nossa voz cantam todos os pássaros
e mugem todas as boiadas que vão pelas estradas.
Somos a espiga e o grão que retornam à terra.
Nossa pena é a enxada que vai cavando,
é o arado milenário que sulca
para a colheita das gerações.
Nossos versos têm relance de enxada,
gume de foice e peso de machado.
Cheiro de currais e gosto de terra.
Vive em nós a casa caipira, o fogão a lenha,
O homem trabalhador e a boa cozinheira.
Mora em nós a viola e o violeiro, as congadas
As folias e os sapateados dos catireiros.
Queremos gente do mato e dos tempos
Guardar em nosso museu da memória
A juriti que clama a saudade, na tarde calma.
Guardamos a sina do peão boiadeiro
E do seu velho berrante ferindo
A solidão do velho peão estradeiro.
Queremos gente dos cerrados e dos tempos
Guardar em nosso museu de tudo,
O Mundo Caipira, que nasce da terra, das eras,
De todos os rincões de Minas e Goiás.
Somos assim homens dos matos,
Caipiras de uma crença sem fim…
A bênção, sertão querido!
A bênção, irmãos da terra!
Álvaro Catelan