Terno do Arigó dá vida ao poema Cerrado de Elomar Mello 

Terno do Arigó dá vida ao poema Cerrado de Elomar Mello 

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O Instituto jamais perde de vista  suas propostas desde a criação do mesmo, aqui você se reconhece, redescobre suas raízes e identidade cultural. Com a produção do ‘Almanaque Cultural do Cerrado’ se buscar resgatar fragmentos da história. Neste episódio é apresentado o ‘Terno do Arigó’, sendo declamado o poema Cerrado.

Assista o vídeo no canal do YouTube do Instituto, acesse pelo link: https://youtu.be/mrGMn38_ivo

Por Ednair Barros e Nielton Soares dos Santos


Intitulado de Almanaque Cultural do Cerrado, o Instituto Altair Sales (IAS) busca resgatar fragmentos da memória de expressões artísticas brasileiras. Neste primeiro episódio da série é apresentado o ‘Terno do Arigó’, uma adaptação do poema Cerrado feita pelo  artista e dramaturgo Fred Cássio, no município de Correntina, situada na região Oeste da Bahia, em 2001. Já o texto é de quem é conhecido como o menestrel das Caatingas. Trata-se do escritor e músico Elomar Figueira Mello. 


Há que se destacar a grandiosidade desse músico da “ Casa dos Carneiros”, nome da fazenda em que Elomar Figueira Mello, reside na região do Oeste baiano. 


Por meio de um riquíssimo acervo do professor Altair Sales Barbosa, com formação em  arqueologia, história, antropologia e sobretudo: pesquisador incansável desse universo que envolve a sua formação, o Instituto conta com um enorme acervo científico e cultural. 


Ele é  constituído de estudos sobre o nosso sistema biogeográfico, registros de histórias pelo interior do Brasil, releituras a partir de canções de domínio público, personagens e fragmentos. Um universo repleto de conteúdos que remontam as nossas raízes e formação cultural. 


Foi necessário reafirmar, sim, nosso comprometimento com a proposta do IAS.


Hoje você conhece o que é o ‘Terno de Arigó’. Um movimento que nasceu nos anos de 1940 e que se contrapõe a outros ternos do Oeste baiano. Região muito rica em manifestações culturais, diga-se de passagem.


Terno do Arigó


Pois bem: Arigó, foi até uma grife das  mais sofisticadas de Ternos de Reiseiros. Idealizado por Laurentino Neves e Roberto Araújo, em meados de 2000, ele chegou a ser retomado com o objetivo de se contrapor aos ternos bem comportados.


Tudo que parecia somente deboche, trazia implicitamente uma mensagem: a de levar alegria pelas ruas em que percorria nas cidades do Oeste baiano. Havia pessoas, que sabiam imitar com destreza, grandes figuras conhecidas nos municípios.  Correntina, no interior da Bahia, era uma dessas cidades.

Almanaque Cultural do Cerrado
Terno do Arigó | Foto: divulgação


Vídeo 


Registrada em vídeo, por Renato Alves e Sara Vitória, a apresentação teatral integra o rico acervo cultural e científico deste Instituto, que decidiu disponibilizar ao público. Para tanto na obra foi integrado novos elementos, como trilha sonora a música de Eny, de autoria e violão de Eurípedes Fontenele; intérpretes de Andréa Teixeira (flauta) e Euler Amorim (Bondolim). Com produção do Instituto Altair Sales, direção do professor Altair Sales, texto e narração de Ednair Barros e edição de Nielton Soares e Sanoeth Schulze.  


Poema Cerrado de Elomar Figueira Mello


Cerrado de gado brabo

nuves da cor de guede

cás boca d?istambo imbruiada

barrão de fogo alevantado

Pé-seco e os anjo na rede

armada na incruzilhada

sete anjin morto de sede

horas morta madrugada

tatú-peba cumeu as mágua

qui chorô na mamona do oro

pelos banco da meágua

as alma de Chico Bizoro

inhambado in pat?oba

vistiu cum gibão dos coro

das anca da besta-boba

e cuspiu fogo dos olho

Uriinha do São Juaquim

Lubizome e Boa-Tarde

malungo cum Mão-Pelada

in sete légua de camin

e véve a fazê latumia

pra quem é de compra medo

num arroto nem peço segredo

tomém num é pur subirbia

Apois eu vi isturdia

lá na Lagoa Fermosa

me rupia o corpo inteiro

eu te arrenego arma pantariosa

eu te arrenego e arrequêro

apois sim pois bem fui campiá

muito dispois das ave-maria

?as cabra veaca qui todo dia

iscapulia pras banda de lá

foi cuan eu vi na bera da aguada

um bando abolco de alma penada

inquanto ?as midia otras custurava

dum lado ?as gimia já otras chorava

rismungan qui era os peso e midida

os retai dos pan qui cuan in vida

tomava pra cuzê e cum o alei ficava

Nas minha andança dent dos serrado

já vi coisa do invisive e do malassobrado

coisas de fazê arripiá os cabelo

minha mãe me insinô

qui o dismazel

a sujera e o dismantel

tombém é pecado

contô qui há muito na Lagoa Torta

morava ?a mulé, falo in vida da morta

dismantelada dos pé té os cabelo

cuns dente marelo e os vistido rasgado

varria a casa catano os farelo

té a cachuera ispindurô pendente

presa na pedra sem caí no vão

tudo in memora da hora inselente

qui hai toda noite derna criação

Nas minha andança dent dos serrado

já via coisa do invisuve e do malassobrado

Oras viva e arriviva

gorda e forra a Fragazona

in pinicado de Sanazo

cum as tinha qui do calunga

na quadra da pedra uma

na toca do Lubião

nas loa do sapo-sunga

in pinicado de Sansão

imprecavejo muit? inconive

já vi coisa do invisive

visage e latumia

pantumia e parição

de quem tá morto e quem vive

istripulia de Rumão

e adispois amuntuava o cisco dum lado

?a certa noite essa mulé

qui é morta

foi jogá o cisco

cuan abriu a porta

deu cum bich qui ach

qui era o Cão

apois trazia ?a pá de lixo

e um ferrão na mão

naquela hora nada lhe valeu

só teve tempo de soltá um grito

valei-me São Binidito

tremeu feiz um fiasco

cai baten os casco

bateu no chão e morreu

Nas minha andança

dent dos serrado

já via coisa do invisuve e do malassobrado

D?a certa feita lá no Ventadô

adonde o vento foi fazê a volta e num voltô

assucedeu qui o sol me logrô

e eu tive qui drumi

donde o rebãin maiô

pela mea noite alevantei da rede

turduada c?a sede

qui quaje me mato

fui bebê água perto na aguada

ia mais discunfiada qui bode pastô

cuano cheguei perto

foi qui dei pur fé

fiquei toda ripiada da cabeça aos pé

apois lá dibaixo do imbuzero do miau

topei Chico Niculau

mais Manezim Serradô

Eu vi Naninha sentada

pidino ismola

cujos difunto nas viola

cantava uns canto de horrô

voltei corren olhan prá traiz e benzeno

cuan cheguei é qui fui vê

qui minha sede passô

Nas minha andança dento dos serrado

já vi coisa do invisive e do malassobrado

Cuano os cristão reposa

cuando drome os crente

iantes d?alevantá das cova

os ser osente

as coisa toda morna in preparação

pru sono curto qui dura um repente

toda mea noite na hora inselente

do tempo e o vento e toda criação

já vi ?a noite apois ela num mente

parô os ramo as fôia no capão

cigarra grilo cururu rodão

cobra jibóia cascavé serepente

lambú três-pote mãe-da-lua cancão

tatú mucüin toda alma vivente.

Até a cachoeira espindurou pendente

Presa na pedra sem cair no vão

tudo em memória da hora inselente

que hai toda noite desda criação

nas minha andança dentro do cerrado

já vi coisa do invisive e do malassombrado

horas viva e arreviva

gorda e forra a sagra foma

pinincando de sansão

na quara da pedrauna

na toca do lambião

nas loas do sapo sunga

impinincado de sansão

imprecavejo muito inconive

já vi coisa do invisive

visage e latumia

batumia e parição

de quem tá morto e quem vive

estripulia de rumão.


Para ler e assistir outras séries acesse o Blog do IAS.