A vasta savana do Cerrado, no Brasil, está enfrentando um perigo crescente à medida que a agroindústria devora suas terras. A rica biodiversidade dessa região já foi reduzida pela metade para abrir espaço para plantações de soja, milho, sorgo e algodão, regadas com pesticidas, resultando em séria distribuição do solo. Incêndios florestais assolam a paisagem, sendo chamados de “Hiroshima” por sua violência devastadora. O Instituto Brasileiro de Pesquisa Espacial (Inpe) registrou mais de 23 mil focos de incêndio no Cerrado este ano, com mais de 5 mil km² de área devastada, um aumento alarmante de 20% em relação ao mesmo período do ano passado.
Na região próxima à cidade de Uruçuí, no oeste do estado do Piauí, o fogo se espalha implacavelmente. Às margens das estradas, brasas incandescentes e cinzas cobrem a paisagem. As chamas se erguem e ameaça até os caminhões que passam pela região. Durante grande parte de agosto, Uruçuí ganhou o triste título de cidade com o maior número de incêndios em todo o Brasil. Este título, no entanto, é apenas um indicativo do agravamento da destruição do Cerrado.
Uruçuí, embora pareça insignificante no mapa do Sertão Nordestino, a cerca de mil quilômetros da costa, é um microcosmo das crescentes ameaças ao Cerrado. Esta cidade, com um nome indígena que significa “grande abelha” em Tupi, abriga cerca de 25 mil habitantes, situada entre o tranquilo rio Parnaíba, apelidado de “velho monge” por sua serenidade, e vastas praias a 400 metros de altitude, conhecida como chapadões.
Riqueza única versus Matopiba

Além disso, Uruçuí está localizada no coração do Cerrado, uma savana que já cobriu 2 milhões de quilômetros quadrados, o equivalente a metade da União Europeia. É uma região que rivaliza com a Amazônia em tamanho e biodiversidade e abrigava uma riqueza única, com mais de 320 mil espécies de animais, o que inclui, ainda, poucas onças, tamanduás-bandeira gigantes e antas. O Cerrado também desempenha um papel fundamental como bacia hidrográfica e um importante sumidouro de carbono. Apesar de tudo isso, a destruição industrial avança rapidamente, com metade de sua área desaparecendo em algumas décadas.
Hoje, os latifundiários dominam as terras dos chapadões de Uruçuí, com arados que se estendem onde a vista alcança. O que antes era uma exuberante floresta de arbustos se transformou em uma paisagem típica do “Matopiba”, uma região composta pelos estados nordestinos do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
A devastação do Cerrado, destacada pelo jornal Le Monde, é um alerta para a agroindústria e os incêndios que ameaçam esse ecossistema vital. Com a crescente alteração do solo e a perda de biodiversidade, a preservação do Cerrado torna-se uma questão urgente. A situação em Uruçuí é apenas um exemplo do que está acontecendo em toda a região, e a comunidade internacional deve estar atenta a esse importante problema ambiental no Brasil.
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Au Brésil, la savane du Cerrado dévorée par l’agro-industrie