Em uma certa ocasião, o conto do Dodo caiu nas mãos de um professor. Ao lê-lo, comovido de tanta emoção, não suportou suas lágrimas, seus olhos marejaram e com vergonha dos alunos escondeu num canto do corredor. Mas, percebendo algo diferente, alguns alunos se aproximaram e perguntaram:
– Por que choras professor?
E assim rodeado de alguns alunos, com ar professoral de sempre e com sabedoria, o professor respondeu:
– Choro pela triste história do Dodo!
Percebendo que seus alunos não entenderam, começou a explicar:
– Dodô era uma ave indefesa que habitava as Ilhas Maurício, localizada no Oceano Índico, descoberta por marinheiros portugueses e holandeses. Após uma série de atrocidades cometidas por estes, esta foi completamente extinta.

Os ancestrais do Dodô chegaram até o local, ainda aladas, com o passar dos tempos, a seleção natural, que está sempre mexendo nas espécies, diminuindo, expandindo, ajustando, pondo e tirando, otimizando o êxito reprodutivo imediato, contribuiu para que os dodôs perdessem as asas, pois não precisavam mais delas, especialmente porque não encontraram predadores na ilha e assim, por milhares de anos viveram e construíram suas colônias.
Quando os navegantes portugueses chegaram a Maurício em 1507, os abundantes Dodôs, grandes aves que chegavam a pesar até 15 quilos, eram completamente mansos e se aproximavam daquelas novas figuras, sem receio ou desconfiança, já que por milhares de anos não haviam confrontado com predadores. Os infelizes dodôs foram mortos a pauladas pelos portugueses e mais tarde pelos holandeses. Muitos foram mortos por esporte. A extinção veio a galope. Como é comum, ela ocorreu por uma combinação de fatores. Os humanos introduziram na ilha cães, porcos, ratos e refugiados religiosos. Os cães os caçavam de forma esbaforida, os porcos e ratos comiam seus ovos, os humanos plantavam cana de açúcar e destruíram os seus habitats.
Chorar pelo Dodô, me remete a todas essas situações e outras mais, por isso, choro também por aqueles que o modelo de economia predatória, fez com que perdessem seus territórios, choro pelos sem teto, choro pelos que foram enganados, pelos povos indígenas, choro por aqueles que o sistema fez perder o amor pela vida, choro pelos que têm fome.
Mas gostaria de lhes falar também, que por detrás de todo este chorar, que se manifesta de forma explícita, esconde um choro ainda mais dolorido, que procuro esconder, para que ninguém possa ver meus olhos marejados. Esse choro, é pelos elementos fundamentais que a educação perdeu, principalmente a dignidade, o respeito, o entusiasmo e o orgulho de ser professor. Para mim ele é o sinônimo da própria vergonha, por isso, procuro chorar escondido e bem baixinho. Sinto vergonha da incapacidade de não poder ter evitado os tenebrosos caminhos que conduziram a educação para a situação em que se encontra.

E por último, dirigindo-se aos alunos ainda falou:
– A compreensão da realidade atual cibernética, a inércia na tomada de atitudes radicais, a falta de conscientização, a abdicação do papel fundamental da educação na formação de cidadãos conscientes, e o abandono da busca da felicidade e liberdade, são situações que somente poderão ser explicadas, ou talvez compreendidas, através da mudança radical dos padrões de como vimos o mundo, e como o vemos atualmente. Para isto, a busca de novos paradigmas se torna imprescindível. Os que existem são incapazes de fornecer as respostas necessárias para acharmos o caminho do êxito.
Mas choro também pela perda do Cerrado, cujos últimos representantes caminham, como numa procissão de desiludidos, em direção às covas. Queria tanto, que as futuras gerações, pudessem também colorir seus olhos de tanta beleza.
Mas, já que vocês me acercaram, justo no mês do Cerrado, eu tenho uma pergunta para vocês: Eu quero que vocês me digam: onde foi que nós estávamos ontem, que deixamos tudo isto acontecer.
Não temos tanto a comemorar.
Mesmo assim, vamos numa só
Ciranda, buscarmos uma trilha.
Que os erros e as omissões do passado,
Nos apontem a esperança.
Por Altair Sales Barbosa
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