Carnaúba é espécie considerada como “árvore da vida” devido ao poder de cura da sua cera vegetal; a planta também é utilizada em produção artesanal
A carnaúba, uma palmeira icônica do semiárido nordestino, possui múltiplos usos e benefícios para ao ecossistema e a sociedade. A alcunha de “árvore da vida” atribuída a ela reflete sua capacidade de fornecer desde frutos comestíveis até uma cera vegetal altamente versátil, empregada tanto na indústria quanto na produção artesanal. Os estados do Ceará e do Piauí adotaram como símbolo, o que confirma o seu valor.
Essa palmeira, com até 15 metros de altura, ostenta folhas verdes que adquirem um tom amarelado à medida que se desidratam. Essas folhas específicas são fonte primária de degradação da cera, um tipo de lipídio que protege a planta da dessecação e do calor intenso. Com um ponto de fusão elevado (78 °C), a cera de carnaúba consiste robusta, o que se torna aplicável em pavimentos, veículos, cosméticos, medicamentos, alimentos, eletrônicos e produtos variados.
Para além da cera, a carnaúba também gera outras riquezas: óleo dos frutos, palmito do tronco, raízes medicinais, madeira para construção e fibras para atividades artesanais. Seu papel na conservação do solo, da fauna, dos cursos d’água e mananciais na região onde prospera, reforça sua relevância como planta sustentável, desempenhando um papel crucial na economia local.
Apesar de associada à Caatinga, a carnaúba também marca presença no Cerrado, onde sua capacidade de adaptação ao clima árido e quente.
Exploração sustentável: a inovação cosmética com cera de carnaúba
Um novo ativo cosmético oriundo da cera de carnaúba, recentemente desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), oferece uma alternativa sustentável para correção de manchas na pele e esfoliação. A inovação surge como resposta à necessidade de substituir as microesferas de plástico, amplamente utilizadas na indústria cosmética, entretanto são ameaçadoras aos oceanos e à vida marinha.
A professora doutora Tamara Gonçalves, do curso de Farmácia da UFC e coordenadora do Laboratório de Cosméticos, destaca a busca por uma solução para os cosméticos esfoliantes após a separação das microesferas de polietileno nos Estados Unidos. A partir da cera da carnaúba, desenvolvem microesferas naturais que não impactam o meio ambiente e desempenham função semelhante.
Os estudos focaram em extrair o potencial da carnaúba, cujas propriedades permitiram a criação de microesferas comparáveis às plásticas, porém ecologicamente responsáveis. O produto resultante também possui propriedades clareadoras, graças à adição do ácido kójico, amplamente reconhecido no mercado cosmético por esse efeito.
Mercado e potencial
Após o processo de patenteamento, o novo produto aguarda investimentos de empresas interessadas para chegar ao mercado. A pesquisadora Tamara Gonçalves enxerga um futuro promissor para essa inovação, com potencial de sucesso semelhante a produtos já existentes. Ela destaca que a Natura lançou microesferas de bambu com ácido glicólico, seguindo a mesma finalidade do UFC.
O desafio será a conservação das espécies de carnaúba e seus sistemas biogeográficos Caatinga e Cerrado.
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Fonte:
Pesquisadoras da UFC desenvolvem cosmético multifuncional a partir da carnaúba